domingo, 13 de junho de 2010

A Hora da Estrela - Clarice Lispector

É muito difícil falar sobre “A Hora da Estrela”. Último livro que Clarice Lispector publicou em vida, é uma obra curta, de poucas páginas, mas de uma intensidade visceral. Um soco no estômago em alguns trechos. Um carinho doce em outros. Qualquer coisa que eu diga sobre a criação será fraca, inferior e incapaz de retratar uma obra de tão absoluta qualidade.
A autora criou Rodrigo S. M., um escritor que conta a história de Macabéa.
Ele é chato. Me irritou profundamente em vários momentos. Fala de suas crises existenciais e criativas. Acha que é Deus, pelo menos daquela história. E é. A vontade que eu tive foi de entrar no livro e esbofetear o sujeito. Metido, esnobe, soberbo. Um homem que, por ser escritor, se acha superior às outras pessoas e não se envergonha disso.
A doçura vem com Macabéa. Inventada por Rodrigo, ela está em todas as esquinas das cidades grandes. Saiu do nordeste em busca de alguma coisa no Rio de Janeiro, mas ela nunca soube o que procurava. Não tinha consciência da própria existência. E viver, nada mais era do que um passar dos dias.
Clarice Lispector brinca com seus personagens e seus leitores. Posso senti-la se divertindo ao criar o enredo. Cria dois seres completamente diferentes: um homem e uma mulher; um intelectual e uma ignorante; um que se achava Deus e uma que nem sabia que era gente. E tem a audácia de misturá-los no mesmo livro, sem que nenhum dos dois perdesse sua essência.
Até que ponto Clarice era Rodrigo S. M.? Até que ponto Clarice era Macabéa? Impossível saber. Eu fico aqui, babando, lendo e relendo “A Hora da Estrela”. Me dá até vergonha de publicar qualquer coisa depois disso.
Genialidade é para poucos. Clarice sabia muito bem que era um gênio.

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